A demissão é prima do divórcio. Você quase nunca entende os motivos, mesmo que saiba quais são eles, não entende como isso pôde acontecer logo com você, e com tanta história pra contar, não sabe muito bem o que fazer no dia seguinte, se sente perdida, desorientada, totalmente sem rumo, se pergunta se algum dia vai conseguir algo tão bom e logo se auto-ajuda dizendo que sim, CLARO que sim, afinal você é muito melhor do que pensam e aquilo nem era tão bom assim, sua rotina muda, seus horários são outros, as 24 hs que eram poucas para um dia, agora são 24 dias em uma hora, você não sabe com quem falar sobre o que e tem medo do que pode vir a ouvir, não sabe se os amigos serão os mesmos e muito menos se você será a mesma. Recolher as coisas da sua mesa, limpar as gavetas e tirar os porta-retratos é muito aterrorizante. As semelhanças são muitas, inevitáveis comparações. Todo mundo está exposto à esses riscos. Acho que tenho medo do sol que nos invade a janela pela manhã, sem cerimônia, chamando pra mais um desafio, mais um risco, mas uma chance de -não passar- por isso... Duas pessoas que admiro muito foram demitidas. Razões diversas, consideráveis, mas nada digestivas. Não sei o que dizer. Não sei o que gostariam de ouvir. Não sei sequer se devo falar. Mas sinto saudade, como um relacionamento rompido fora do tempo, sem motivo aparente. Isso passa...
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