Bem Doida!

segunda-feira, maio 26, 2003



As voltas que o mundo dá e o valor do tão aclamado e por vezes odiado tempo...

(que me desculpe a Marisa Monte, mas o amor sabe sim esperar!)


Uma amiga sempre cultivou um amor adormecido por um colega de colégio com quem havia namorado por algum tempo, sendo que, depois do fim, nunca foi recíproco - ele cultivava mágoas e uma frieza absoluta, sem querer nada dela, além da distância e ela sempre convicta de que aquele sentimento não era em vão, apesar de tudo.

Passaram-se anos, uns 8 se não me engano. Dele ela carregava a frustração de um amor adormecido e mal resolvido enquanto ele, nos reecontros casuais com pessoas próximas, tentava se lembrar, por mera curiosidade, se os olhos dela eram verdes ou azuis. Noite de sábado. Coincidentemente foram para o mesmo show (o que sabiam do outro era o que ouviam de conhecidos e nas poucas vezes que se viram, os olhos não se cruzaram e a pressa das filas de banco e dos movimentos no shopping fizeram com que não trocassem quase nada além de um afoito "Oi, tudo bom").

Encostados no balcão do bar, o reencontro. Olhares perdidos, desconcertados, muita conversa sem rumo e chega a hora de ir embora - foram juntos (ela foi ao show de carona com colegas de trabalho que provavelmente foram abduzidos no meio da noite- pelo menos foi nisso que ela quis acreditar). No carro ela silenciosa e ele tagarela, como se quisesse recuperar, em 20 minutos, todo o tempo em que permaneceram distantes, até que pararam num sinal. O lugar lembrava qualquer parte daquela história mal resolvida. Surgiu um comentário seguido de um sorriso sem jeito. A mão trêmula encosta timidamente na outra fria. E um beijo. Só um beijo, sem qualquer palavra, promessa, pergunta ou pedido de desculpas. Foram para casa. Uma casa só. Numa cama só. Voltaram a ser um só. Dois meses depois estavam casados. Hoje têm uma filha de dois anos, dividem cama, travesseiro, e a mesma história - ele também, mesmo escondido na frieza da indiferença, sabia que nunca tinha conseguido esquecer aquele amor. Se sentem felizes por terem se permitido hoje fazer de todo o sofrimento motivo para deliciosas gargalhadas na hora do jantar.
Sim, eles souberam aproveitar a dor, o tempo e o amor.

E sim, eles estão completos e muito felizes...


* Dedico este post a Lua, que sempre me pede paciência com o tempo, ao Fox, que vem junto comigo questionando "quanto tempo tem um tempo" (sem muito sucesso) e a todos os que, em algum momento, já chegaram a desacreditar no amor.